Macrotendências WGSN
A ascensão do universo digital influenciou bastante no comportamento e na forma como o mercado de moda irá funcionar. A WGSN elegeu as macrotendências que nortearão as tendências da próxima temporada.
O período de isolamento transformou as relações de trabalho, a forma de nos conectarmos com as outras pessoas, a forma como consumimos e produzimos.
E com a previsão de voltarmos a “normalidade” temos um novo desafio pela frente. De acordo com a WGSN a próxima temporada irá destacar a importância do que eles chamam de 4 Cs: conexão, conservação, comunicação e comunidade.
Entre os macrotemas que guiarão a forma de consumir nas próximas temporadas a agência de tendências destacou os 7 principais que são:
Reforma radical
A principal macrotendência apontada pela WGSN é a Reforma Radical. A ideia principal é a de executar as promessas de mudanças que vem sendo feitas, como o respeito a diversidade de etnias, culturas, corpos, a responsabilidade das empresas em relação a sustentabilidade estará em destaque.
Assim como sua responsabilidade social, empresas que causam impactos negativos e não se responsabilizam ou agem para diminuí-los podem acabar sendo prejudicadas nesse novo contexto.
Proteção e segurança
Como é um período em que as marcas da insegurança ainda estarão muito fortes a busca pelo conforto, proteção e segurança permanecerão em alta.
Essa macrotendência influencia diretamente o comportamento e a forma de consumir das pessoas, o que aumenta o investimento em materiais de segurança, os tipos de roupas que favoreçam a proteção e a segurança terão mais destaque.
Paradoxo tecnológico
Se antes algumas pessoas estranhavam conversar com os “robôs” em suas ligações telefônicas agora eles fazem parte do dia a dia, seja nos chats, nos serviços ao cliente e até mesmo realizando vendas em ecommerce.
Mas quanto mais robôs interagem menos contatos humanos as pessoas têm, agravando transtornos psicológicos que foram desencadeados durante o isolamento social.
Além disso, o paradoxo tecnológico também está relacionado ao excesso de informações e a relevância dessas informações.
Todas as pessoas sabem sobre tudo, mas não se aprofundam em nada, assim como o excesso de produção de conteúdo e a desinformação causada pelas fake news.
As leis e o controle das publicações, o enfraquecimento do poder dos influenciadores digitais e uma busca por conteúdos mais relevantes podem ser pontos importantes para uma redefinição das interações digitais.
Comunidade 3.0
Durante o período pandêmico houve o fortalecimento da economia local e a colaboração. Durante esse período foram criadas diversas iniciativas de apoio a comunidade e de digitalização dos processos até de estabelecimentos mais simples.
Isso ocasionou uma ampliação da rede de fornecedores, já que a digitalização e aumento do acesso a informação mostrou aos pequenos empresários novas possibilidades e levou a uma capacitação de pessoas locais para fomentar a economia dentro da sua comunidade. Isso colaborou para ampliar a atividade de delivery para além da entrega de comida.
As pessoas compram roupas, fazem compras de mantimentos, móveis, eletrodomésticos, e se antes apenas as grandes empresas “surfavam” nessa onda, o aumento do número de Market Place de produtos variados como Amazon, Mercado Livre e Magazine Luiza levou os pequenos lojistas a outro patamar na venda online.
Meio ambiente, da urgência à emergência
Uma das macrotendências apontam para a emergência das questões climáticas aumentando assim a visibilidade das empresas regenerativas que estão criando ações sustentáveis e tem responsabilidade ambiental.
Cada vez mais os danos ao meio ambiente estão impactando diretamente na vida das pessoas, e isso fará com que essa situação se torne ainda mais relevante para os consumidores na hora de fazer suas escolhas.
Geração Recessão
Já durante a pandemia a crise econômica assolou diversos países do mundo escancarando a desigualdade social e agravando a escassez.
Com a redução do poder de compra dos consumidores, aumento do desemprego e a inflação nas alturas, os consumidores desse período estão lidando com a recessão e isso reflete de forma devastadora na economia e na forma de comprar.
Apesar da crescente preocupação com sustentabilidade e impactos negativos da produção no meio ambiente e na sociedade o fator preço se torna muito importante, favorecendo as fast fashion e os produtos com valores mais acessíveis.
Além disso as relações de trabalho também foram impactadas, o aumento da insegurança financeira favorece o crescimento de trabalhos temporários e sob demanda. Isso causa também o aumento da instabilidade e impacta diretamente no consumo.
Novas Alianças
A insegurança dos tempos que passaram afetaram também as relações internacionais e isso está enfatizando as tensões políticas.
O mundo todo está vivenciando os impactos de conflitos e crises de outros países e continentes, um reflexo claro dos efeitos da globalização.
Novas alianças e probabilidades assim como novas formas de produzir e consumir são reveladas em períodos como esse.
Perfis de Consumidor 2023 WGSN (Macrotendências Primavera Verão 2022/2023)
A esperança é que 2023 seja o ano em que finalmente estaremos no que pode ser considerado Pós Pandemia, e como nós já falamos a forma como o consumidor vai ser relacionar com a sua experiência de consumo, as necessidades e os hábitos estão alterados.
Esse é um momento que estaremos diante de um novo paradoxo, a necessidade de expansão e libertação que já é vivenciada nesse ano de 2022, com a volta dos festivais internacionais, shows e encontros presenciais de todos os tipos tanto na área do trabalho como do lazer, assim como a sensação de medo de que uma nova crise, sanitária ou financeira se apresente novamente o que tem causado transtornos psicológicos e novos tipos de relações sociais e aumento do relacionamento virtual entre as pessoas.
Como já falamos nos textos sobre o Metaverso, esse período foi um período de aceleração da digitalização das relações, e obviamente essa ascensão do universo virtual também altera a percepção e a atuação dos consumidores.
A WGSN identificou quatro perfis principais de consumidores que podem colaborar para que os produtores de moda criem suas coleções identificando o desejo e as novas relações desses públicos com o que irão consumir. Confira:
Antecipadores
Esse perfil de consumidor está afetado pelo período que passou, se sente fadigado emocionalmente, desmotivado em relação ao futuro e não confia em uma possível melhora da situação econômica.
Esse é o consumidor que age com cautela e busca estabilidade. Consumir é uma questão de necessidade e não de lazer.
Nesse caso o consumidor precisa enxergar a necessidade da compra de determinado produto para agir e de garantias para adquirir algo.
A confiança e a construção de relações sólidas entre consumidor e empresa é uma das possibilidades. Esse consumidor se antecipa às situações e precisa ter garantias da qualidade do que vai comprar.
Novos Românticos
Já o perfil dos Novos Românticos fala sobre consumidores que buscam escapar de suas rotinas. Fala sobre um consumo emocional, que busca relacionamento, identificação, reconexão.
Algo que esteja relacionado a ações colaborativas, afetivas e comunitárias. Essas pessoas fazem parte do que tem sido chamado de êxodo urbano, pessoas que buscam novas relações, tanto com o ser humano quanto com a natureza.
Elas fogem das áreas urbanas, aproveitando que é possível uma nova relação com o trabalho devido a manutenção do home office em grande parte das empresas.
Com o trabalho remoto se estabelecendo, essas pessoas estão fugindo das metrópoles em direção a áreas rurais, redefinindo o conceito delas de comunidade.
Para atrair esse público os produtos precisam gerar conexão, ter algum tipo de atrativo que colabore para despertar a emoção e atender a essa expectativa de afeto e resgate das relações.
Muito além de produtos, esses consumidores avaliam a experiência da compra, o relacionamento criado através dessa vivência.
Produtos naturais, sustentáveis, com responsabilidade social, artesanal, que ocasionem experiências sensoriais são exemplos do que pode atrair os “novos românticos.
Inconformados
Algumas das macrotendências que citamos na primeira parte do texto, como a Reforma Radical e a Geração Recessão já apontam para a existência desse perfil de consumidor, os Inconformados.
A falta de habilidade de grande parte dos governos e instituições de lidara com a crise escancarou a desigualdade social, e esse perfil de consumidor integra o grupo de pessoas que tem usado a tecnologia e as ações sociais para tentar “reconstruir o mundo”.
Buscando essa transformação esse grupo busca apoiar a diversidade. Também podem ser considerados ativistas sociais, esse perfil de consumidor se preocupa com a cultura e valores das empresas que produzem o que eles consomem.
Ou seja, muito além da qualidade do produto o que importa para esses consumidores são as relações dessas empresas com o meio ambiente, as minorias, os impactos de suas produções, entre outros fatores.
A ética, a transparência e o fator humano podem ser essenciais para a tomada de decisão de compra desse público. São exigentes e buscam uma experiência de compra completa, que além da qualidade , durabilidade e utilidade do produto, mostre que a empresa tem responsabilidade ambiental e social.
Condutores
Condutores, pioneiros, esse perfil de consumidor está a frente e gosta de experimentar e testar. São pessoas com diversas habilidades e incrível capacidade de se adaptar às novas situações e tecnologias.
Esse provavelmente o perfil mais engajado nas novidades do mercado e que provavelmente estão desbravando o metaverso, tecnologia 3D, realidade virtual, entre outras tecnologias.
Se interessam por experiências que despertem os sentidos, e geralmente são pessoas que iniciam as novas profissões que surgem no mercado.
Para atrair esses consumidores é preciso ter muita criatividade, tecnologia, além de investirem em produtos e serviços que tenham real utilidade e facilitem suas vidas.
Inovação, tecnologia e aprendizado são palavras chave para esse perfil de público. Suas experiências de compra são normalmente virtuais, e caso sejam presenciais precisam ter experiências de compra interativas e que despertem sua curiosidade.
Casa Firjan
O laboratório de tendências da Casa Firjan também lançou seu relatório e apresentou as três principais macrotendências detectadas por seus estudos e pesquisas.
Temas como crise climática e ambiental, e democratização do acesso a tecnologia e trabalho híbrido tiveram destaque entre os assuntos levantados pelo relatório. Confira as três macrotendências definidas pela Casa Firjan:
Cybertopia
A primeira delas foi chamada de Cybertopia, a ideia é que a interação tecnológica cresça ainda mais e o acesso as ferramentas se torne descentralizado. Isso envolve o crescimento do interesse em tecnologia blockchain, a popularização de criptomoedas e NFTs.
Além da popularização das inteligencias artificiais, realidade virtual e aumentada, entre outras possibilidades de imersão em um mundo virtual tornando a experiência do usuário cada vez mais próxima da realidade.
Essa macrotendência levanta também o alerta sobre privacidade e segurança de dados, que apesar de todos os avanços tecnológicos ainda ficam bem aquém do ideal para preservar os usuários.
Altermundo
A macrotendência Altermundo fala sobre a necessidade da transparência, processos justos, comprovação e garantia da origem dos produtos, fornecedores, e uma preocupação geral com os impactos sociais e ambientais das empresas.
Essa é uma tendência que aponta para consumidores mais exigentes e que tem consciência dos impactos de suas escolhas para a sociedade em geral.
Estamos diante de um quadro quase irreversível em relação a degradação da natureza e há uma necessidade de que as indústrias e empresas revejam seus processos para frear o desastre ambiental.
Pluridiverso
Na macrotendência Pluridiverso temos a vida híbrida, o misto entre o digital e o presencial aqui são abordados os relacionamentos dos indivíduos dentro desses dois universos.
Seja sobre os contatos e interações em espaços digitais para relações pessoais ou sobre as novas relações de trabalhos incentivadas pelo período de isolamento social quando o home office foi uma das principais formas de manter os postos de trabalho ativo, essa macrotendência traz a ideia de diminuição das distâncias e ampliação das possibilidades de experiências. Assim como a macrotendência Cybertopia, as ferramentas tecnológicas e o acesso a internet são essenciais.
O desafio é manter a produtividade e o compromisso com esses novos tipos de relações híbridas quando relacionadas ao trabalho, assim como manter a fidelidade dos consumidores com tanta variedade de ofertas dos mesmos produtos.
Desfiles e coleções Primavera Verão 2022/2023
Vitalidade esportiva
As coleções desfiladas nas passarelas internacionais tiveram bastante influência do clima de retorno dos esportes com as Olimpíadas de Tokyo que ocorreram excepcionalmente em 2021 marcando o retorno dos grandes eventos internacionais.
A energia, vitalidade e a garra os esportistas conquistaram o público e levantaram uma nova leva de influencia nas redes sociais dando destaque aos atletas, notoriedade que antes estava relacionada quase exclusivamente aos jogadores de futebol.
Desafiar limites, acelerar a vida, que esteve praticamente parada durante a pandemia, descarregar energias acumuladas, tudo o que gira em torno das competições serviram como inspiração para o público e influenciou a criação de coleções modernas, práticas, com estética mais esportiva, utilitária, e também tecnológica.
Sensualidade em alta
Em diversos desfiles a sensualidade esteve presente, em decotes e recortes ousados, o estilo sexy volta como um grito de liberdade após um período de privação.
A sensualidade chega nas próximas coleções primavera verão celebrando o prazer e expressando o desejo de quebrar essas barreiras, tanto as físicas como as psicológicas. O retorno das festas e festivais, os modelos curtos e que facilitam o movimento, acessórios ousados e sexy, trazem de volta a extroversão, a transgressão e até mesmo uma volta ao passado com modelos que misturam a sensualidade e o romantismo do passado com corseletes, babados e franzidos misturados aos decotes e comprimentos curtos.
De volta ao passado
A exemplo das macrotendências do último ano, que mostravam uma valorização dos saberes populares e da ancestralidade, o desejo de voltar ao passado permanece forte nessa nova temporada primavera verão mas com uma viagem no tempo um pouco mais recente.
Com coleções inspiradas nos anos 90 e 2000, essa macrotendência aponta para um desejo de voltar a um passado que as pessoas vivenciaram e sentem falta, como se a moda pudesse trazer de volta a sensação e liberdade vivida nesse período, um retorno a infância, adolescência, que além de trazer nostalgia para os adultos encantam a nova geração.
Inspiração Multicultural
Trabalhos manuais e criativos com inspiração em diversas culturas também estiveram presentes nas coleções dos desfiles internacionais. Isso mostra que as influências das macrotendências do último ano continuam fortes para a próxima temporada. Essa tendência também aponta para o crescimento da decolonização da moda. Isso se deve a popularização da estética da moda indígena e afro que vem ganhando cada vez mais adeptos e a criação de uma cultura de moda brasileira com menos influências eurocêntricas.