Olá Bonitonas, hoje quero falar da importância e do surgimento do feminismo na minha vida. Cresci em um ambiente de mulheres fortes, guerreiras, daquelas bem bravas, mas que tiveram criação extremamente machista. Os homens deveriam ser sempre servidos, atendidos, protegidos e amados, foi assim que elas aprenderam com as mães, assim eu cresci assistindo, ainda que inconformada, várias cenas em que as meninas arrumavam a casa, ajudavam a cozinhar, cuidavam dos mais novos e os meninos brincavam. Eram mulheres que não sabiam, mas precisavam muito do feminismo, assim como todas nós atualmente.
Para a minha sorte, eu nasci em uma família inusitada, diria que extremamente incomum a qualquer padrão, meu pai é completamente maluco, divertido, espontâneo, e até romântico do jeitinho dele, tão cheio de defeitos, mas com muitas qualidades, arrisco dizer que ele ainda é uma criança, e minha mãe é o oposto, centrada, equilibrada, tão poderosa, dominante na grande maioria das vezes e muito independente. Acontece que os dois se completaram de um jeito estranho e acharam um ponto de equilíbrio fantástico no relacionamento, tudo é baseado em uma extrema sinceridade e compreensão, independente do assunto ou do acontecimento, um relacionamento quase utópico.
Meus pais me mostraram que uma relação deve ser baseada em parceria, confiança, companheirismo, aceitação, igualdade e principalmente, na possibilidade de poder ser sempre você mesmo. Então passei a considerar que só valeria a pena me relacionar com alguém que fosse, antes de qualquer outra coisa, meu amigo, parceiro, que respeite minhas opiniões e me trate com igualdade, o que geralmente dificulta meu processo rs. E por mais que a senhora Valdete também seja machista algumas vezes, (é duro ouvir ‘seu irmão não precisa fazer isso, ele é homem’, ou ‘as mulheres é que tem que se dar o respeito’) foi a partir da admiração por ela que passei a enxergar a necessidade de quebrar esse paradigma, não queria essa herança de servidão velada, de leoas fortes, bravas e guerreiras que se tornavam cordeirinhos mansos ao se apaixonarem pelo “macho alpha”.
Fui me apaixonando pela ideia de liberdade, fui estudando por conta própria, já que isso não era incentivado na escola, as histórias de mulheres que estavam a frente do seu tempo, que revolucionaram, brigaram pela libertação feminina, e que pouco a pouco conquistaram esse espaço que para muitas parece completamente confortável mas que é só o começo do que podemos conquistar. Eu senti que queria muito ser uma dessas mulheres, não querendo ser pretensiosa, mas já sendo, determinei como um sonho que valeria a pena tornar real, fazer história nesse universo, e assim o feminismo se tornou parte da minha vida.
É até divertido, toda vez que eu digo: “sou feminista” sou encarada com olhares críticos, duvidosos, “mas você nem parece uma feminista”, é uma das coisas que eu mais ouço até mesmo de outras feministas. Então gostaria de esclarecer duas coisas, a primeira me dirigindo às mulheres, se lutamos tanto contra padronizações e estereótipos parece absurdo criar mais um cagando regras de como uma mulher deve se comportar ou se vestir para ser feminista, segundo, para os homens, não é porque eu sou feminista que eu sou obrigada a odiar homens, a não me depilar, sair na Marcha das Vadias (que fique claro que já fui e curti), a não passar maquiagem, ou ser ativista, mesmo que eu possa fazer tudo isso e muito mais se essa for a minha vontade.
Sempre questionei a obrigatoriedade da liderança e protagonismo masculinos em quase todas as situações, questiono ainda as diferenças básicas das expressões “a mulher dele” , o “homem dela”, conseguem perceber que nos dois casos, quando essas palavras são ditas a mulher está em um papel de submissão?
Não me conformava com o fato de que qualquer coisa era o bastante para acabar com a reputação de alguma menina na escola, e que era tão simples para os meninos fazerem qualquer coisa que quisessem, não existia “menino rodado”. E atualmente ainda não me conformo em saber que mulheres na mesma posição dentro de uma empresa ganham menos dinheiro que os homens. Não aceito o fato de ter que fingir ter namorado para dar fora porque só o NÃO não é o bastante para convencer. Acho absurdo não me sentir confortável para sair sozinha a noite, não admito que a atitude de um estuprador seja culpa da vítima, não entendo como ainda julgam as mulheres que acabam voltando para seus parceiros abusivos, mesmo sabendo que elas passaram anos ouvindo que é normal, que a mulher deve aceitar para não perder, que ela só será alguém se ela tiver um homem do lado, elas não precisam de julgamento, e sim de ajuda. São muitas coisas que me fazem acreditar que eu preciso do feminismo, esses são alguns poucos, mas bons motivos.
Mas eu confesso, que mesmo depois de tanto estudar, de tanto vivenciar, percebo que não sei quase nada, e aprendo um pouco mais a cada dia, e das formas mais inusitadas, durante uma discussão em um Grupo do Facebook, quando eu estava exercendo meu preconceito enraizado me sentindo a salvadora da pátria dizendo que as prostitutas geralmente são infelizes por estarem nessa situação, que são levadas a venderem seus corpos por falta de condições melhores, recebi como resposta de uma prostituta que nem sempre é assim, que algumas mulheres encaram aquilo como profissão, e escolheram estar ali. Assim vi que lutar pelo feminismo, é, antes de qualquer outra coisa, uma luta pela liberdade de ser e fazer o que quiser, e ser respeitada independente de sua escolha. A cada novo aprendizado vou desmistificando situações, vou percebendo e lidando com meus próprios preconceitos e pensamentos atrasados. Conhecendo mulheres incríveis, e suas histórias de superação, de liberdade e de luta, dessa forma percebi que o feminismo é essencial na minha vida. Ele me faz crescer como pessoa, ele me faz enxergar as pessoas com igualdade, com respeito, independente de quem sejam, da profissão que exercem ou quanto dinheiro tem em suas contas bancárias.
Para finalizar, alguns pontos importantes: feminismo não é igual ao machismo; não queremos dominar o mundo e fazer os homens de escravos; não temos que alistar no exército, até porque isso foi inventado por homens, não temos culpa por essa autopunição; não somos obrigadas a rejeitar gentilezas masculinas por sermos feministas; podemos casar, ter filhos, sermos donas de casa, amar cozinhar e cuidar da família e ainda assim sermos feministas; também podemos escolher não querer nada disso e não queremos ser julgadas por não exercer o tal “papel fundamental” das mulheres. Aceitem, nem todas nós nascemos para sermos mães.
Conclusão: eu preciso do feminismo pois foi ele quem me deu autoridade para poder falar tão abertamente sobre ele e a sua importância nos dias de hoje. Porque através dele eu posso ter liberdade de ser quem eu quiser e não ligar a mínima para o que os outros vão pensar. Porque todas as mulheres que já se sentiram privadas, limitadas, abusadas, precisam do feminismo, mesmo que algumas não entendam ou não admitam. 😉
Se estiverem animados a ler um pouco mais sobre o feminismo, ou o que eles chama de novo feminismo clique aqui: http://mdemulher.abril.com.br/estilo-de-vida/m-trends/mentiras-batidas-sobre-feminismo-que-precisam-parar-de-ser-repetidas e aqui: http://mdemulher.abril.com.br/trabalho/elle/no-novo-feminismo-o-importante-e-ter-liberdade-de-escolha
São matérias que explicam de forma simples o feminismo nos dias de hoje, mas pouco a pouco vou compartilhando na Fan Page mais matérias sobre esse tema. =)