Liberte-se do que não te faz bem…

 

Hoje me sinto um pouco mais livre, posso dizer que estou em processo de transição e que me afastar finalmente de um passado não tão distante foi o maior passo até o momento para que eu pudesse me reestruturar e me reerguer. Não acho que isso seja fugir de quem eu fui, do que eu fiz ou do que eu vivi nesses últimos anos, é apenas uma forma de descobrir quem eu quero ser e quais as atitudes mais sábias a se tomar daqui em diante. Isso não é apagar da lembrança, não é esquecer o que houve, mas apenas fazer com que o passado não doa mais e conviver com ele não se torne um fardo. Eu posso afirmar com certeza que eu não o odeio, que não foi uma perda de tempo e que nada do que fiz ou vivi foi em vão, na verdade, foi um aprendizado, uma experiência, e serviu para que eu me deparasse com o fato de que só se consegue observar a mudança naqueles que tem interesse genuíno em modificar seu comportamento, isto é, somente quando a própria pessoa entende ser necessário adotar uma atitude diferente, e isso não surte efeito se for à base de imposição.

Não se deve iniciar uma relação em busca de lapidar o outro, de moldá-lo, aparar as arestas do relacionamento (que primeiramente, nem deveriam existir), pois isso é autossabotagem, é uma forma de depositar em si mesmo expectativas que não dependem de você para se realizarem, e quando isso não acontece, vêm a frustração, o sentimento de impotência, de que você falhou, seguidos de frases como: “não fui bom o suficiente para fazê-lo mudar”, “a culpa é toda minha”, “fiz tudo errado de novo”, e se eu fosse enumerar, a lista não ia ter fim. E aí você vai degradando aos poucos a sua auto estima, sua crença em si mesmo e desde o início você se desgasta, se martiriza, até não sobrar nada… mas não podemos negar que foi você quem se permitiu entrar em algo assim.

Não queira viver uma relação típica de “novela mexicana”, não é uma aventura, não é bonitinho, não é bom e nem saudável, é nocivo e acaba com o psicológico de qualquer um. O mais certo a se fazer é não criar expectativas em uma relação conflituosa, não fantasiar um enredo romântico de uma história que nunca aconteceu, não mascarar ou justificar comportamentos hostis, machistas e agressivos, dizendo que isso vai melhorar ou fingindo que estes não te atingem, não te fazem sofrer, não abalam suas estruturas, reprimindo todas as noites em claro que você passa preocupado, com raiva, chorando em silêncio, porque assim você tá mentindo pra si mesmo, e todo mundo já percebeu, e lá no fundo você também já sabe disso.

Enquanto você achava que tinha tudo sob controle, ele te tinha nas mãos. Não admita que as pessoas te diminuam, não permita que te manipulem, não entre em “jogos amorosos”, não deixe que te tratem com menor importância do que você merece. Não aceite pessoas pela metade, em hipótese alguma, principalmente  se você for daqueles que acaba se doando mais do que deveria, mesmo que não demonstre. Só faça um esforço para analisar muito bem as vertentes, as variáveis, antes de adentrar em uma relação, você não tá buscando isso agora, só quer ficar bem consigo mesmo e só precisa se aceitar.

Na verdade, você nunca precisou estar com alguém para se conectar com você, é até melhor que sinta um pouco dessa liberdade, desse sentimento. Às vezes parece estranho, depois de tanto tempo, estar ali… frente a frente com você, sem nenhum interlocutor. Usa esse tempo com carinho, descubra mais sobre essa pessoa que por tanto tempo você enclausurou, você deixou de lado, lá no cantinho pra que você pudesse juntar os cacos do seu relacionamento que desde o início já se mostrava um quebra-cabeças, aquele mesmo que você se permitiu entrar porque adorava desafios… mas você não sabia onde tava se metendo né?

É preciso um momento de reclusão, para que você possa converter todo aquele amor, que antes era depositado no vazio, para si mesmo, para aprender a se amar, e não se responsabilizar pelas atitudes de outrem, colocando então o seu bem estar acima de qualquer situação, pessoa ou sentimento. E se for pra você, depois de algum tempo, dar de cara novamente com o amor romântico, que seja um amor livre, tranquilo e recíproco, porque você já vai se amar de mais pra voltar à estaca zero.

Não seja bobo de novo, seja forte, você precisa disso.

Psicóloga, gestalt-terapeuta, pós graduada em avaliação psicológica e neuropsicologia clínica, mãe da Luna, cantora, apaixonada por instrumentos musicais, amante de séries e livros.