Os desfiles de alta-costura do verão 2024 em Paris proporcionaram uma experiência marcante, dividindo-se entre performances escapistas e coleções mais próximas da realidade. De 22 a 25 de janeiro, as grifes renomadas apresentaram suas criações, refletindo não apenas a exuberância da alta-costura, mas também incorporando elementos que ecoam os desafios contemporâneos, como crises econômicas, urgências climáticas e movimentos sociais.
Maison Margiela: Escapismo Renovado
A Maison Margiela, comandada por John Galliano, encerrou a semana com um desfile dramático e teatral. Inspirado na Belle Époque, o estilista proporcionou uma experiência visual única. Modelos com maquiagens de cera, imitando bonecas, atravessaram a passarela de forma provocante. A coleção, com peças volumosas, corpetes e transparências, destacou-se pela fusão de elementos retrô com modernidade, deixando uma marca impactante na alta-costura.
Schiaparelli: Entre o Surrealismo e a Crítica Social
A Schiaparelli, sob a direção de Daniel Roseberry, trouxe uma coleção que mesclou surrealismo e crítica social. Inspirada na obsessão moderna por criaturas extraterrestres, a marca explorou o avanço da tecnologia, incorporando descartes eletrônicos em suas criações. A tradicional exuberância da alta-costura foi preservada com babados, bordados e uma paleta sóbria de cores. A proposta robótica e futurista adicionou uma camada de reflexão sobre a sociedade contemporânea.
Dior: Aura Única da Alta-Costura
Maria Grazia Chiuri, na Dior, explorou a ideia de que a alta-costura cria peças únicas que se tornam extensões da identidade de quem as veste. A coleção primavera/verão 2024 apresentou uma mistura de tecidos rebuscados com modelagens mais casuais, descontruindo o clássico trench coat. A paleta suave de tons terrosos e brancos, juntamente com estampas florais, criou uma aura única. O destaque ficou para a estreia do moiré, um material similar à seda aguada, em sobreposições e vestidos.
Giambattista Valli: Beleza Inacabada do Infinito
A coleção N°26 de Giambattista Valli celebrou a beleza inacabada do infinito. Com um foco em experimentação e gestos de “work in progress,” o estilista trouxe peças com volumes exuberantes, cores vibrantes e estampas florais. A estética balonê, mangas extremamente bufantes e sobreposições de tecidos marcaram a passarela, mantendo a tradição do maximalismo na alta-costura.
Valentino: Ode à Liberdade do Corpo
Pierpaolo Piccioli, na Valentino, encerrou o penúltimo dia da semana com uma coleção que exaltou não apenas as cores vibrantes, mas também a liberdade do corpo. A coleção Le Salon apresentou transparências estratégicas, fendas e texturas felpudas. Além disso, o reconhecimento das artesãs no centro do desfile destacou a importância das habilidades artesanais na alta-costura, em um gesto de apreço pelo trabalho por trás das criações.
Jean Paul Gaultier por Simone Rocha: Coquettecore Romântico
A colaboração entre Jean Paul Gaultier e Simone Rocha trouxe a tendência Coquettecore para a alta-costura. Inspirada por influências vitorianas, Rocha apresentou looks delicados com fluidez, transparência e uma paleta de cores neutras e vibrantes. A conexão entre o legado de Gaultier e a visão criativa de Rocha resultou em silhuetas ajustadas, amplas e detalhes femininos como laços, pérolas e rendas.
Robert Wun: Estética Cinematográfica e Assustadora
Robert Wun, conhecido por sua abordagem única, trouxe uma estética cinematográfica assustadora para a alta-costura. Inspirado por filmes de terror, Wun apresentou uma coleção com véus bordados simulando sangue, modelos com manequins nas costas
e acessórios que remetiam a instrumentos cirúrgicos. A atmosfera gótica e surreal deixou uma impressão duradoura, desafiando as convenções estéticas da alta-costura.
Uma Semana de Contrastes e Criatividade
A semana de alta-costura do verão 2024 em Paris revelou-se uma celebração da moda como forma de arte, abordando tanto a escapada fantasiosa quanto as realidades do mundo contemporâneo. Dos dramáticos espetáculos teatrais aos looks românticos e femininos, a diversidade de expressões criativas demonstra a capacidade da alta-costura de transcender as fronteiras da moda, contando histórias e desafiando expectativas.
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